Em “Mainstream” Frédéric Martel busca entender os movimentos que transformam a cultura e a influência disso em nossas vidas. O livro é resultado de 5 anos de pesquisas, 1.250 pessoas entrevistadas e 30 países visitados. Nessa jornada Frédéric Martel pôde constatar a presença massiva da cultura americana nos países que visitou, inclusive nos países em ditadura e forte censura. Com isso e muitas outras informações o autor constrói sua defesa que o mundo está em guerra pelas mídias e conteúdos. Martel visitou muitos países, e em suas incursões percebeu uma ferrenha competição entre empresas e nações pela soberania cultural. As empresas regidas pelo mercado e pelo capital, e os países pela influência cultural e poder. O autor orienta o livro pela ideia da “guerra global das mídias e das culturas”, e por esse viés identifica o jogo de poder entre Estados e empresas. Grandes empresas e países estão envolvidos nesta competição e com o Brasil não é diferente. Na lista dos emergentes, o Brasil conta com a 4ª maior potência televisiva do planeta, a Rede Globo. A Rede Globo exporta suas novelas para mais de 104 países e se estabelece como um gigante global mainstream. Mas esse jogo vai muito além de novelas e televisão e envolve indústrias como: a musical, internet, cinematográfica, literária, televisiva e videogames. Em produções de convergência de mídias, filmes como homem aranha rendem milhares de subprodutos que inundam o mercado, são eles: jogos, filmes, séries, quadrinhos, desenhos animados, sites, fóruns, etc. Esse poder de convergência e penetração é predominantemente americano. O autor cita a hegemonia cultural americana e relata no livro que em suas viagens, pôde encontrar filmes de Hollywood em países do oriente médio à China. Mesmo em nações com forte domínio político, ditaduras e censuras, existe o comércio ilegal de filmes, músicas e outros produtos culturais. E por essa dinâmica os EUA são os senhores do mundo; seus filmes, séries, talk shows, reality shows e games estão em todo lugar, e seu poder e influência são incontestáveis. É essa guerra de poder que o autor cita no livro, e faz uso do conceito soft power para demonstrar suas teorias. O soft power é o poder do convencimento, da influência, é uma força sutil, não coercitiva, que não faz uso da força. A cultura é um soft power pois se infiltra em países diferentes, rivais ou não, e domina as massas, cria na população novos sonhos e ideais. Existem vários motivos pelos quais os Estados Unidos dominam esse jogo. Os EUA são um mundo em miniatura, existe lá um mini Brasil, uma mini Índia, um mini Vietnã, etc. A imigração e diversidade é muito forte nos EUA, o que cria uma indústria muito plural, e se funciona nos EUA vai funcionar no mundo. Eles tem em casa um laboratório imenso, seja pelo grande e plural contingente populacional, pelo sonho americano da ascensão social, pelo financiamento do governos às indústrias e também o forte investimento de Hollywood nas universidades. Todos esses são ingredientes que colocam os EUA na vanguarda da cultura mainstream. É claro que o autor não se concentra só nos EUA, como visitou 30 países, ele constatou a forte presença de novos players no mercado mainstream. Na India o cinema é forte e o crescimento está a todo vapor, Bollywood produz centenas de filmes por ano e inundam a Ásia com suas produções. O oriente médio avançou no infotainment com programações que informam e entretém, com empresas como Al Jazeera. A China embora sofra com as limitações de censura também avança na produção de conteúdo e cultura. O Japão que é mais fechado e local, tem avançado em suas estratégias mainstream, tendo um forte impacto ao redor do mundo através de seus mangás, músicas e séries de televisão. A Coréia também avança a passos largos com a indústria musical, principalmente através do K-Pop. O livro é um pouco extenso, e algumas vezes denso, mas seu conteúdo é imprescindível para profissionais de mídias, publicitários e todo aquele envolvido com produção de conteúdo e cultura. Top 5 Aprendizados 1 – Hoje a cultura acompanha o movimento do mercado, do capital. Como as indústrias da cultura estão no jogo financeiro, os conteúdos produzidos sempre são voltados para o sucesso e para as massas. Com o tempo, somente conteúdos lucrativos ganham espaço, o que acaba marginalizando outras categorias de arte. Pela intensificação da financeirização de Hollywood, só o que dá lucro tem vez. 2- Um movimento sutil e até inconsciente de dominar o outro. O que vale é fazer da nossa cultura a cultura do outro. Independente do mercado e do capitalismo, sempre estivemos envolvidos com a persuasão e convencimento. Nos nossos relacionamentos estamos sempre influenciando ou sendo influenciados, buscamos fazer de nossas ideias as ideias dos outros. Com a indústria cultural não é diferente, a pressão financeira e o desejo de dominar intensificam a competição e a torna ainda mais sangrenta. 3- Soft power um o controle sutil através da influência. O soft power é o poder do convencimento, da influência, é uma força sutil, não coercitiva, que não faz uso da força. A cultura é um soft power pois se infiltra em países diferentes, rivais ou não, e domina as massas, cria na população novos sonhos e ideais. 4 – Estados Unidos um mundo em miniatura. Os EUA tem uma diversidade imensa, depois dos países de origem, os EUA tem a maior população de mexicanos, vietnamitas, indianos, chineses entre outros. Essa diversidade potencializa as produções americanas, pois o que funciona lá, vai funcionar no mundo. 5 – Existe uma cultura global mainstream e também uma cultura local mainstream. O mainstream não é só global, ele também é local. Temos diversas camadas de conteúdos mainstream e por ele somos influenciados. Na música, literatura, filmes e televisão, temos tanto a presença de artistas nacionais, um mainstream local, quando conteúdos e artistas internacionais, mainstream global. Confira mais no vídeo e podcast abaixo: O post Mainstream | Frédéric Martel apareceu primeiro em Livros & Negócios.
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